A paralisia cerebral infantil (PC) é uma condição neurológica que afeta o controle do movimento e da postura corporal. Algumas crianças também têm limitações intelectuais, problemas comportamentais, dificuldade para ver ou ouvir e/ou convulsões, além de outros tipos de epilepsia.
A condição é causada por danos ao cérebro ainda em desenvolvimento, podendo ocorrer antes, durante ou após o nascimento.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, duas a cada mil crianças nascidas vivas no Brasil sofrem de paralisia cerebral. Apesar de ser considerada uma doença rara, a paralisia cerebral é a doença que mais causa limitação física na infância.
Veremos a seguir, as causas, os tipos de paralisia cerebral infantil, suas características e como é o tratamento de cada uma.
Causas da paralisia cerebral infantil
Durante a gravidez, problemas com a placenta ou o cordão umbilical podem impedir que o bebê receba oxigênio e nutrientes adequados. Infecções na mãe, como rubéola ou toxoplasmose, também podem afetar o desenvolvimento cerebral do feto. Outras condições maternas como diabetes e pressão alta aumentam o risco.
O estilo de vida da mãe é um fator de risco importante. O uso de álcool, drogas ou tabaco, assim como a desnutrição durante a gravidez, pode prejudicar o desenvolvimento do bebê. No momento do parto, complicações como traumas físicos ou hemorragias podem causar danos cerebrais.
Logo após o nascimento, bebês prematuros são mais vulneráveis devido à fragilidade de seus vasos sanguíneos cerebrais, levando a sangramentos. Problemas como hipoglicemia (baixo açúcar no sangue) são fatores que podem levar à paralisia cerebral. Em alguns casos, fatores genéticos estão envolvidos.
É importante lembrar que, embora existam muitas causas possíveis, normalmente conversando com os pais e examinando bem a criança e o seu histórico conseguimos achar um fator principal. A condição resulta de uma combinação complexa de fatores que afetam o desenvolvimento cerebral da criança.
Tipos de paralisia cerebral infantil:
Os tipos de paralisia cerebral infantil estão relacionados à extensão e localização da lesão cerebral. Por isso, quanto mais grave a lesão em localizações mais delicadas e nobres, maior a gravidade.
Importante frisar que a apresentação clínica e os sintomas relacionados à paralisia cerebral são muito variáveis, o que pode gerar uma diferença marcante entre os pacientes.
De acordo com as características clínicas predominantes, a paralisia cerebral pode ser classificada em diferentes tipos:
Paralisia cerebral espástica:
Características principais:
- Caracterizada por rigidez e aumento do tônus muscular, com dificuldade de movimento.
- Comumente causada por lesões no sistema piramidal, que controla os movimentos voluntários.
- Pode levar a encurtamentos nos tendões, reflexos exagerados e deformidades ortopédicas.
Tratamento:
- Fisioterapia e terapia ocupacional para melhorar a função motora e prevenir contraturas.
- Uso de órteses e dispositivos de auxílio à mobilidade.
- Medicamentos relaxantes musculares, como baclofeno e toxina botulínica.
- Cirurgias para correção de deformidades e melhora da marcha, quando necessário.
- Em casos de espasticidade grave refratária ao tratamento convencional, a rizotomia dorsal seletiva e outros procedimentos realizados pelo neurocirurgião pode ser indicada.
Paralisia cerebral discinética (ou atetóide):
Características principais:
- Apresenta movimentos involuntários e atípicos, como contrações musculares incontroláveis.
- É decorrente de lesões nos gânglios da base e do cerebelo, que modulam os movimentos.
- Comumente associada à distonia, que causa contrações musculares indesejadas.
Tratamento:
- Fisioterapia e terapia ocupacional para melhorar o controle e coordenação dos movimentos.
- Medicamentos para reduzir a distonia e os movimentos involuntários.
- Neurocirurgias funcionais e/ou a implantação de bomba de baclofeno intratecal por neurocirurgião, em casos de distonia grave.
Paralisia cerebral atáxica:
Características principais:
- Caracterizada por problemas de equilíbrio, coordenação e movimentação fina.
- Consequência de lesões predominantemente no cerebelo, estrutura essencial para o controle motor.
- Pacientes apresentam dificuldade para andar em linha reta, tremores e alterações na fala.
Tratamento:
Fisioterapia e terapia ocupacional para melhorar o equilíbrio e a coordenação motora.
- Uso de dispositivos de auxílio à marcha e adaptações no ambiente.
- Fonoterapia para lidar com alterações na fala e deglutição.
Além desses 3 tipos principais, também pode ocorrer a paralisia cerebral mista, quando o paciente apresenta uma combinação de características de diferentes formas da doença. Em todos os tipos há o risco para o desenvolvimento da escoliose neuromuscular, distúrbios graves do movimento e epilepsia refratária.
Quando procurar um neurocirurgião pediátrico ?
O neurocirurgião pediátrico deve ser envolvido nos casos mais graves de paralisia cerebral, especialmente quando há comprometimento motor intenso e refratário ao tratamento convencional, o que aumenta a probabilidade de desenvolver complicações como deformidades da coluna, dos membros e epilepsia.
Nesses casos, o neurocirurgião pode indicar e realizar procedimentos como:
Cirurgia para Escoliose:
Com o desenvolvimento da cirurgia de coluna, foi possível desenvolver técnicas menos invasivas que permitem a cirurgia de correção da escoliose em crianças com paralisia cerebral mesmo com um certo comprometimento clinico.
Quando a curva excede os 50 graus ou leva à dificuldade de mobilização, higienização, feridas nos glúteos e dificuldades respiratórias, a cirurgia está indicada. As principais técnicas são a cirurgia com implantes de parafusos de hastes ao longo de toda a curva para a correção definitiva e a cirurgia com a técnica bipolar, realizada com duas pequenas incisões levando à correção da curva ao longo do tempo e, inclusive, permitindo o crescimento da coluna.
O objetivo da cirurgia é alinhar a cabeça com o quadril, melhorar a curva da coluna e restaurar a qualidade de vida reduzindo dor, dificuldades respiratórias e o desequilíbrio da criança.
Rizotomia Dorsal Seletiva:
A rizotomia dorsal seletiva é realizada por neurocirurgiões pediátricos e visa reduzir a espasticidade nos membros inferiores (pernas e pés) em crianças com paralisia cerebral espástica.
Estudos mostram que a cirurgia, quando indicada adequadamente, pode proporcionar melhora significativa da função motora, facilitando a reabilitação e a realização de atividades diárias.
Por ser um procedimento irreversível, a seleção criteriosa dos pacientes e o acompanhamento pós-operatório são de grande importância no prognóstico.
Bomba de Baclofeno Intratecal:
Para crianças com paralisia cerebral e espasticidade/distonia graves, a implantação da bomba de baclofeno intratecal pode ser uma opção.
Esse dispositivo, implantado por um neurocirurgião, libera o medicamento baclofeno diretamente no espaço que contém os tecidos nervosos, promovendo redução efetiva da hipertonia muscular.
Os resultados geralmente são positivos, com melhora da função motora e da qualidade de vida. Porém, é necessário um acompanhamento médico regular para ajustes da medicação e enchimento do dispositivo.
Independentemente do procedimento realizado, é essencial que a criança passe por uma reabilitação intensiva no pós-operatório, com fisioterapia, terapia ocupacional e acompanhamento multidisciplinar. Esse cuidado integrado é de suma importância para maximizar os benefícios da intervenção cirúrgica e permitir que a criança alcance seu máximo potencial de desenvolvimento e independência.
Cirurgias para epilepsia refratária:
Em casos de epilepsia em que as medicações não estão controlando as crises, os procedimentos microcirúrgicos e de neuromodulação tem trazido grande beneficio na qualidade de vida dos pacientes e cuidadores.
Exames como a ressonância magnética do encéfalo, o videoeletroencefalograma e um bom exame físico e conversa sobre como as crises acontecem levam à melhor indicação.
Podemos remover uma área do cérebro que cause as crises (cirurgia ressectiva), sem causar nenhum tipo de sequela; implantar dispositivos que inibem as crises (estimulador cerebral profundo ou estimulador do nervo vago), ou desconectar regiões por onde as crises se espalham (calosotomia, hemisferotomia).
Se seu filho tem o diagnóstico de paralisia cerebral e você gostaria de saber das possibilidades de cirurgia para um melhor prognóstico, agende uma consulta. Terei o maior prazer em tirar todas as suas dúvidas.